O primeiro Mafia foi uma revolução para sua época: um dos primeiros a trazer um mundo aberto com narrativa cinematográfica ambientada nos anos 1930, durante os últimos dias da Lei Seca nos EUA. Era uma ficção criminal onde mafiosos eram italianos, os policiais eram irlandeses e o álcool vinha do Canadá. Agora, Mafia: Definitive Edition entrega uma releitura visualmente impressionante, respeitosa e envolvente de um clássico cult que, apesar da relevância histórica, não envelheceu bem tecnicamente.
Mesmo com uma campanha relativamente curta que pode ser completada em um fim de semana, o jogo consegue trazer uma experiência fresca e nostálgica ao mesmo tempo. A cidade fictícia de Lost Heaven, inspirada em Chicago, ganha vida com detalhes exuberantes e ambientação autêntica. Após a sequência de abertura arrebatadora, o jogo mergulha direto nas 20 missões principais, entregando uma experiência fortemente linear, como no original de 2002.
Apesar do ambiente aberto, Mafia continua fiel ao estilo focado em história. A campanha single-player conduz o jogador missão a missão, com exploração livre relegada ao modo “Free Ride”. Infelizmente, o estúdio Hangar 13 perdeu a chance de explorar mais os arredores da cidade com missões opcionais ou eventos dinâmicos. Isso poderia ter adicionado mais ação ao vasto mapa recriado com tanta fidelidade.
A história, no entanto, continua excelente. A narrativa segue Tommy Angelo, um taxista que se envolve com a máfia local após um encontro inesperado com membros da Família Salieri. A trama se desenrola por meio de flashbacks, enquanto Tommy confessa seus crimes a um detetive. Embora a ordem dos acontecimentos siga o jogo original, os diálogos foram reescritos e as atuações reformuladas, resultando em um roteiro mais fluido, natural e fiel à linguagem da época.
Andrew Bongiorno, como Tommy, oferece uma performance forte e contida. Mesmo sem tornar Tommy um herói simpático, o ator imprime ao personagem um peso emocional que torna sua trajetória mais crível. A cena entre Tommy e o detetive Norman, por exemplo, é um destaque em termos de atuação e direção narrativa.
Visualmente, o remake é encantador. Dos rostos realistas aos carros detalhados, passando pela iluminação noturna e placas de neon refletidas em poças de chuva tudo contribui para uma atmosfera envolvente. Contudo, nem tudo é perfeito: o efeito do fogo deixa a desejar, principalmente considerando o uso constante de coquetéis molotov pelos inimigos. Além disso, bugs ocasionais como inimigos travados ou o jogador afundando no mapa podem atrapalhar a imersão.
O áudio é outro ponto alto. Efeitos sonoros, armas, passos, o som do vidro... tudo é meticulosamente trabalhado. A trilha sonora inclui faixas originais e clássicos de Louis Armstrong, criando uma ambientação sonora marcante.
Mafia: Definitive Edition também inclui um “modo clássico”, onde o desafio aumenta consideravelmente inimigos são mais resistentes, itens de cura são escassos, e recarregar a arma na hora errada pode custar munição. Há, ainda, personalizações para deixar a experiência mais realista, como ativar punições por excesso de velocidade. A direção, por sua vez, pode ser ajustada entre modos arcade e simulação. A segunda opção oferece carros com peso e respostas fiéis à época, incluindo pneus pequenos e freadas longas.
Novidade do remake, as motocicletas são uma adição bem-vinda. Elas ajudam a acessar atalhos e variam a experiência de locomoção, trazendo diversidade ao gameplay. A direção é um dos pontos mais refinados da trilogia, com boa sensação de peso e responsividade.
Por outro lado, a movimentação a pé deixa a desejar. As mecânicas de cobertura durante os tiroteios são pouco refinadas e o combate corpo a corpo é prejudicado pela câmera. Em uma missão, por exemplo, um inimigo ficou preso em um objeto e não pude atingi-lo até que o jogo “permitisse”. Felizmente, o sistema de checkpoints minimiza a frustração.
Os cenários das missões de combate são variados e belos de fazendas abandonadas a restaurantes italianos , mas o design dos confrontos não se destaca entre outros jogos modernos do gênero. Ainda assim, o capricho artístico e a fidelidade histórica ajudam a elevar o valor do conjunto.
Fora da campanha, o modo “Free Ride” permite explorar Lost Heaven à vontade, trocando de roupas, veículos e testando armamentos. A cidade em si é um espetáculo à parte. Mesmo sem grande verticalidade, seus arranha-céus, ruas largas e arquitetura dão uma sensação de escala rara em jogos.
O maior problema técnico talvez seja a direção. Embora os carros antigos sejam charmosos, muitos sofrem com subesterço excessivo o que prejudica missões com limite de tempo ou curvas fechadas. Em baixa velocidade, a direção é prazerosa, mas ao acelerar e tentar manobras rápidas, o sistema de física revela suas limitações.
No entanto, Mafia: Definitive Edition é, acima de tudo, um exemplo do que um remake de verdade deve ser. Vai muito além de um polimento gráfico: cada aspecto foi retrabalhado com respeito ao original, mas com melhorias substanciais em narrativa, visuais, áudio e jogabilidade. Para fãs da máfia, ou para quem busca uma narrativa linear imersiva ao estilo de um filme, é uma experiência obrigatória.
Veredito Final
Um remake genuíno que transforma um clássico de 2002 em uma experiência moderna e impactante. Apesar de limitações em combate e missões pouco variadas, Mafia: Definitive Edition se destaca pelo cuidado com a ambientação, excelente atuação, direção de arte e trilha sonora envolvente. É a versão definitiva de uma das histórias mais marcantes do gênero.
Online10
Gráficos10
Gameplay10
Trilha Sonora9
Positivo
-Trilha sonora impecável
-Um Remake maravilhoso
-Melhorias nos gráficos e jogabilidade.
Contra
- Bugs dos carros as vezes incomodam9
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