Metal Gear Solid: Master Collection Vol. 1 é mais do que um simples pacote de jogos antigos relançados em plataformas modernas. Trata-se de uma verdadeira cápsula do tempo que preserva e celebra uma das franquias mais importantes da história dos videogames. A série criada por Hideo Kojima não apenas popularizou o gênero stealth, mas também mostrou como narrativa cinematográfica e gameplay poderiam se unir para criar experiências inesquecíveis. Revisitar esses títulos mais de 15 anos depois foi como abrir um baú de memórias, onde cada detalhe ainda estava gravado na mente, desde as frases de efeito dos personagens até as rotas que conhecia de cor em Shadow Moses e Big Shell.
A coletânea começa voltando às origens com os clássicos Metal Gear (1987) e Metal Gear 2: Solid Snake (1990), lançados originalmente para MSX2. Esses títulos podem parecer datados hoje, com sua jogabilidade em visão superior e movimentação limitada, mas ainda oferecem uma experiência fascinante. Eles funcionam quase como um “museu virtual”, permitindo que novos jogadores compreendam como elementos fundamentais da franquia surgiram: o radar, o sistema de alertas, as conversas por codec e até mecânicas de infiltração por dutos já estavam lá em forma embrionária. Mesmo com controles duros e checkpoints punitivos, é surpreendente como ainda é possível se divertir com eles.
Além disso, a coletânea também traz a versão de Metal Gear para NES e o spin-off Snake’s Revenge, mesmo que não sejam considerados canônicos. A inclusão desses jogos mostra a preocupação em oferecer um retrato completo do legado da série, funcionando como curiosidades históricas para quem deseja explorar todas as ramificações possíveis da saga. Os controles foram unificados para ficarem mais próximos dos padrões modernos, o que ajuda bastante na adaptação.
Mas, claro, o grande atrativo da Master Collection são os três primeiros Metal Gear Solid. Começando pelo clássico de 1998, temos aqui um dos jogos mais influentes já criados. Mesmo com texturas simples e o aspecto 4:3, a atmosfera continua intacta. O impacto da abertura em Shadow Moses, a tensão dos confrontos contra os chefes e o misto de suspense político com drama humano permanecem poderosos até hoje. O design de câmeras fixas, pensado para realçar a narrativa cinematográfica, ainda funciona muito bem, evitando problemas comuns de jogos 3D da época.
É claro que os controles de combate podem parecer engessados, já que atirar exige segurar dois botões e não existe mira manual, mas isso faz parte da identidade original. O que mais impressiona é como o jogo continua cativante e imersivo, mesmo sem nenhum tipo de modernização. A trilha sonora, os diálogos marcantes e momentos como a luta contra Psycho Mantis ainda são referências obrigatórias no meio dos games.
Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty, de 2001, mostra uma evolução impressionante. O salto gráfico em relação ao primeiro é enorme, e a adição da câmera em primeira pessoa trouxe mais precisão e liberdade ao combate. Aqui, o enredo ousado e polêmico que troca Snake por Raiden como protagonista ainda divide opiniões, mas não há como negar sua relevância. A história aborda manipulação de informação e fake news, um tema assustadoramente atual, mostrando o quanto Kojima estava à frente do seu tempo.
Revisitar o famoso prólogo do navio foi uma experiência nostálgica e divertida, com todos os pequenos detalhes interativos que tornaram esse jogo lendário. Atirar em garrafas, usar a caixa de papelão, prender guardas em armários ou simplesmente explorar a liberdade que o jogo oferecia continuam sendo atividades surpreendentes até hoje. MGS2 é, sem dúvida, um dos títulos mais ousados da franquia e envelheceu de maneira curiosa: algumas ideias ficaram estranhas, mas muitas parecem ainda mais relevantes no mundo de hoje.
O ápice da coletânea chega com Metal Gear Solid 3: Snake Eater, ambientado na Guerra Fria. Aqui vemos o nascimento da lenda de Big Boss, em uma trama emocionante e cheia de reviravoltas. O sistema de camuflagem e sobrevivência trouxe novas camadas de estratégia, exigindo que o jogador adaptasse suas roupas e curativos ao ambiente. O clima da selva, aliado à trilha sonora icônica com a música-tema que ecoa como um clássico de espionagem, tornam essa experiência única. Até hoje, a relação entre Snake e The Boss é considerada uma das histórias mais marcantes dos videogames.
No Switch, jogar Snake Eater no modo portátil é uma experiência ainda mais intimista. Com fones de ouvido, a imersão aumenta e a direção cinematográfica do jogo brilha em cada detalhe. Mesmo que os gráficos não tenham recebido grandes melhorias nesta coletânea, o charme do jogo original permanece intacto. Para muitos, MGS3 é o melhor da série, e poder revisitá-lo a qualquer momento no portátil da Nintendo é um privilégio.
Um detalhe curioso é que, ao contrário de outras coleções, a Master Collection não centraliza todo o conteúdo em um único hub. Cada jogo ou extra precisa ser baixado separadamente, como se fossem aplicativos independentes. Isso pode parecer confuso no começo, mas também dá liberdade para baixar apenas o que você realmente deseja jogar, economizando espaço no console. Ainda assim, teria sido mais elegante ter um menu unificado para navegar por todo esse conteúdo.
Falando em extras, a coletânea é generosa. Além dos jogos principais, estão incluídos pacotes como VR Missions e Special Missions, além de conteúdos digitais como o Master Book e o Screenplay Book, que trazem informações riquíssimas sobre personagens, mecânicas e roteiros completos. Também temos as graphic novels digitais de MGS1 e MGS2, animadas com sons e trilha sonora. É um material que funciona quase como uma enciclopédia de Metal Gear.
A ausência de alguns títulos, no entanto, é sentida. Jogos importantes como Peace Walker, Portable Ops, Acid e principalmente Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots ficaram de fora desta primeira coletânea. A numeração Vol. 1 sugere que haverá uma segunda, mas ainda não há confirmação oficial. Para quem gostaria de revisitar a história completa de Snake, essa lacuna é notável.
Outro ponto que pode incomodar alguns jogadores é a falta de melhorias gráficas significativas. Diferente de outras coleções que oferecem filtros ou versões atualizadas, aqui a proposta é preservar os jogos em seu estado original. Isso é ótimo para quem busca fidelidade histórica, mas pode desapontar quem esperava um polimento extra. A adição de opções gráficas modernas teria sido bem-vinda, especialmente no caso de MGS1, que já tem mais de 25 anos.
Ainda assim, em termos de desempenho, os jogos rodam de forma estável no Switch. Não há quedas graves de performance e a experiência portátil é surpreendentemente fluida. Jogar MGS em qualquer lugar, seja na sala, na cama ou durante uma viagem, dá um novo sentido à coletânea. É um formato que combina perfeitamente com o estilo da franquia, tornando cada missão algo ainda mais pessoal.
No fim, Metal Gear Solid: Master Collection Vol. 1 é uma celebração da história dos videogames. Para veteranos, é uma chance de reviver memórias e relembrar porque esses títulos marcaram uma geração. Para novatos, é a porta de entrada ideal para conhecer uma das franquias mais importantes já feitas. Apesar das falhas e ausências, o pacote é robusto, fiel e indispensável.
E por tudo isso, só posso concluir que esta é uma das melhores formas de revisitar o legado de Hideo Kojima e de Solid Snake. Uma coletânea que honra seu passado, preserva sua história e ainda consegue emocionar no presente. Deixo aqui também meu agradecimento especial à Konami Brasil, que disponibilizou o código e me permitiu mergulhar novamente neste universo inesquecível.
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