Retornar a um jogo como Borderlands 3 em pleno 2025 é um exercício fascinante. Lançado em 2019, ele surgiu em um cenário de looter shooters diferente do que temos hoje. Agora, anos depois, com o mercado saturado de jogos como serviço e modelos de monetização complexos, a questão é inevitável: o rei do caos da Gearbox ainda consegue manter seu trono? Após mergulhar de volta em seu universo vibrante no PlayStation 5, a resposta é um sonoro sim. Borderlands 3 não apenas envelheceu com uma graça surpreendente, mas também serve como um poderoso lembrete do que torna este gênero tão especial em sua forma mais pura.
O que mais se destaca, jogando hoje, é a pureza de seu ciclo de jogo. Em uma era dominada por passes de batalha e engajamento diário obrigatório, a abordagem de Borderlands 3 é refrescantemente direta. É uma experiência completa e contida, focada inteiramente em atirar em coisas, coletar uma montanha de loot e ver seus números crescerem. A satisfação de encontrar uma arma lendária que muda o jogo não está atrelada a uma loja rotativa ou a um evento de tempo limitado. Essa filosofia de design, que parecia padrão em 2019, hoje soa quase como um luxo, oferecendo uma aventura imensa com um começo, meio e um fim robusto.
A jogabilidade no PlayStation 5 faz um trabalho notável em mascarar a idade do jogo. O gunplay, que já era uma evolução massiva para a série na época, ainda se sente incrivelmente moderno e satisfatório. A implementação do feedback tátil e dos gatilhos adaptativos do DualSense é tão bem feita que poderia facilmente enganar alguém, fazendo o pensar que este é um lançamento recente. Sentir o coice distinto de cada fabricante de armas na palma da mão e a tensão do gatilho ao mirar cria uma camada de imersão que ajuda Borderlands 3 a competir tranquilamente com shooters desenvolvidos anos depois.
O arsenal continua a ser o pilar da experiência e, sinceramente, pouquíssimos jogos em 2025 conseguiram replicar a alegria pura e a criatividade absurda das armas de Borderlands 3. A variedade vai muito além de arquétipos básicos. Armas que disparam hambúrgueres, armas que gritam ao serem recarregadas, armas que se tornam pequenos drones de combate... essa insanidade controlada é atemporal. Enquanto muitos jogos modernos se concentram em um balanceamento meticuloso para o cenário competitivo, Borderlands 3 se deleita em dar ao jogador ferramentas desequilibradas e hilárias, uma escolha de design que permanece tão divertida hoje quanto era no lançamento.
A identidade forte de cada fabricante de armas é outro aspecto que envelheceu como um bom vinho. Essa atenção aos detalhes, onde uma arma da Jakobs se sente completamente diferente de uma da Maliwan não apenas em estatísticas, mas em filosofia de uso, adiciona uma profundidade que muitos jogos contemporâneos simplificam. Em 2025, essa complexidade é bem vinda, oferecendo uma camada de estratégia na montagem do seu loadout que recompensa o conhecimento e a experimentação do jogador de uma forma que nunca se torna obsoleta.
Visualmente, a aposta da Gearbox em um estilo de arte cel shading se prova mais uma vez uma decisão genial. Enquanto jogos que buscaram o fotorrealismo em 2019 podem hoje parecer um pouco datados, o visual cartunesco e vibrante de Borderlands 3 permanece deslumbrante. A viagem interplanetária, que nos leva de metrópoles neon de Promethea aos pântanos de Eden 6, ainda oferece paisagens impressionantes e uma diversidade visual que mantém a longa campanha interessante. O jogo roda com uma fluidez impecável no PS5, provando que uma direção de arte forte triunfa sobre a contagem de polígonos a longo prazo.
Os quatro Caça Arcas, Moze, Zane, Amara e FL4K, continuam sendo exemplos fantásticos de design de classes. A profundidade oferecida por suas múltiplas árvores de habilidades e habilidades de ação intercambiáveis ainda é um ponto alto do gênero. Na verdade, a flexibilidade na criação de builds em Borderlands 3 supera a de muitos sucessores espirituais, que muitas vezes confinam o jogador a papéis mais rígidos. A liberdade de criar um Zane focado em velocidade e dano ou uma Amara tanque de combate corpo a corpo é imensa, garantindo uma rejogabilidade que se sustenta mesmo anos depois.
A narrativa e seus vilões, os Gêmeos Calypso, são talvez os elementos que mais sentem o peso do tempo. Em 2019, a sátira aos influenciadores digitais e à cultura de streaming era atual. Em 2025, ela funciona como uma cápsula do tempo da internet daquela época, e embora ainda seja compreensível, não possui o mesmo impacto ou a ameaça atemporal de um vilão como Handsome Jack. A história cumpre seu papel de nos levar a lugares incríveis, mas seus antagonistas se sentem presos a um momento cultural específico.
Da mesma forma, revisitar o humor de Borderlands 3 em 2025 é uma experiência curiosa. Muitas das piadas ainda funcionam, graças ao seu tom absurdo e autodepreciativo. No entanto, algumas referências e estilos de comédia estão claramente enraizados na cultura da internet do final da década de 2010. Não é algo que prejudique a experiência, mas é notável para um jogador que retorna ao jogo. O charme irreverente ainda está lá, mas agora vem acompanhado de uma leve camada de nostalgia.
Felizmente, o impacto emocional do retorno de personagens queridos da franquia é imune à passagem do tempo. Rever Lilith, Maya e outros heróis, e ver suas jornadas continuando (e às vezes terminando) ainda ressoa fortemente. Para os fãs da saga, esses momentos são o coração da experiência, conectando os jogos e dando um peso real ao universo. Esse serviço aos fãs foi feito com cuidado e continua sendo um dos maiores trunfos da narrativa de Borderlands 3.
As melhorias na qualidade de vida da jogabilidade cooperativa, como o sistema de marcação e o loot instanciado, foram tão bem implementadas que se tornaram padrão no gênero hoje em dia. Jogar com amigos em 2025 é uma experiência tão fluida e sem atritos que é fácil esquecer que essas não eram funcionalidades garantidas na época. Isso mostra que a Gearbox estava atenta às tendências do mercado, criando um sistema cooperativo robusto que não precisou de remendos para se manter relevante.
Por fim, o endgame de Borderlands 3 se sente surpreendentemente moderno. O sistema de Modo Caos, que permite escalar a dificuldade e as recompensas com modificadores aleatórios, é um modelo que muitos jogos de serviço atuais adotam. A diferença crucial é que todo esse conteúdo já estava presente, formando um pacote completo. Em 2025, onde muitos jogos são lançados com a promessa de conteúdo futuro, ter uma experiência tão rica e completa desde o início é imensamente gratificante.
Concluindo, Borderlands 3 não é apenas uma relíquia divertida; é um titã que se recusa a ser esquecido. Jogá lo em 2025 no PlayStation 5 revela um jogo cujo design fundamental era tão forte que transcendeu sua era. Seu foco na diversão pura, no loot absurdo e em uma experiência cooperativa sólida o torna uma alternativa fantástica e, de certa forma, mais honesta, a muitos de seus contemporâneos. É a prova de que um ótimo jogo, com uma direção de arte forte e mecânicas refinadas, pode de fato desafiar o tempo.
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