Sword of the Sea Review



Sword of the Sea é daqueles jogos que parecem nascer com uma alma própria. Desenvolvido pela Giant Squid, o estúdio responsável por títulos como Abzû e The Pathless, ele retoma a tradição de experiências contemplativas, mas com um toque único: a fusão entre esporte radical e poesia visual. Ao colocar o jogador em cima de uma espada flutuante que serve como prancha de skate, surf e snowboard ao mesmo tempo, o game entrega uma sensação de liberdade rara de se encontrar nos videogames atuais.

Logo nos primeiros minutos, é impossível não notar a atmosfera grandiosa que cerca a jornada. O mundo é um deserto vasto e enigmático, repleto de ruínas e estruturas colossais que escondem mistérios sobre um passado esquecido. A proposta é devolver vida e água a esse território árido, mas a narrativa nunca é contada de forma explícita. Assim como em Journey, a história é comunicada por símbolos, gestos e pela própria arquitetura do cenário. A jogabilidade é a grande estrela. A espada-prancha responde com suavidade a cada movimento, permitindo que o jogador deslize pelas dunas como se estivesse surfando ondas douradas. Ao pegar velocidade e saltar em rampas naturais, a sensação é tão fluida que chega a lembrar a experiência de títulos clássicos como SSX ou Tony Hawk, só que reinterpretados em um contexto mais poético e meditativo.




Esse contraste entre ação e contemplação faz parte do charme do jogo. De um lado, há a adrenalina de encadear manobras, manter o impulso e explorar as mecânicas de travessia. De outro, há momentos de silêncio, em que a música de Austin Wintory e os visuais deslumbrantes convidam a simplesmente parar e observar. É essa dualidade que transforma Sword of the Sea em algo além de um simples jogo de plataforma ou esporte.

O trabalho de trilha sonora merece um destaque especial. Austin Wintory, colaborador de longa data do estúdio, assina mais uma obra-prima. Corais, instrumentos de sopro e melodias melancólicas se misturam para criar uma experiência auditiva que vai muito além do acompanhamento de fundo. A música dita o ritmo da exploração, intensifica os momentos de clímax e traz calma nos instantes de reflexão.



Visualmente, Sword of the Sea é estonteante. As influências de Moebius e dos quadrinhos franco-belgas são claras, com cenários que parecem pinturas vivas. Há áreas cobertas de neve cintilante, cidades submersas que ganham vida ao serem restauradas e até criaturas gigantes que evocam o peso e a melancolia de Shadow of the Colossus. Cada bioma é uma nova oportunidade para se perder em detalhes e perceber como a direção de arte é meticulosamente pensada.

Apesar do visual impressionante, o design de níveis mantém uma simplicidade elegante. Cada fase pode ser concluída rapidamente, mas sempre há segredos e rotas alternativas para quem gosta de explorar. Isso estimula a curiosidade do jogador, recompensando a atenção com pequenos fragmentos de lore e itens que expandem as possibilidades de movimento. A estrutura lembra muito uma metáfora de viagem espiritual. Os chefes, por exemplo, não são lutas épicas no estilo tradicional. Em vez disso, os confrontos parecem rituais melancólicos, como se o jogador estivesse participando de algo maior que ele próprio. Ao derrotar essas entidades, a sensação não é de vitória, mas de perda, reforçando o tom reflexivo da obra.



No entanto, nem tudo é perfeito. Em alguns momentos, especialmente quando o jogo tenta introduzir mecânicas diferentes de movimentação, a fluidez do controle perde um pouco da precisão. Não chega a comprometer a experiência, mas quebra o ritmo em trechos pontuais. Da mesma forma, a narrativa silenciosa pode soar enigmática demais para quem espera uma história clara e com diálogos.

Outro ponto é a duração. Sword of the Sea pode ser finalizado em cerca de cinco a seis horas, o que para alguns pode parecer curto. Existe um modo New Game Plus que adiciona contadores de pontuação, velocidade e novos desafios, mas ainda assim é uma experiência mais voltada para quem gosta de revisitar cenários e buscar perfeição em sua travessia.Apesar disso, a proposta de Sword of the Sea nunca foi competir em escala com RPGs gigantes ou aventuras de mundo aberto. Sua força está justamente em ser compacto, intenso e memorável. É um jogo que pede para ser sentido mais do que vencido, e cada sessão deixa marcas que permanecem muito depois do final.




É impossível não destacar como o estúdio Giant Squid conseguiu unir todas as suas influências em uma obra que parece o ápice de sua identidade criativa. Se Journey trouxe a sensação de conexão espiritual e Abzû explorou a beleza do oceano, Sword of the Sea mistura tudo isso com uma jogabilidade mais acessível e divertida, resultando em uma experiência coesa e brilhante.

Em última análise, Sword of the Sea não é apenas mais um jogo indie bonito. Ele é uma celebração da arte nos videogames, uma jornada meditativa que une mecânica, música e estética em um só fluxo. Pode não agradar a todos, especialmente quem busca algo mais competitivo ou narrativamente denso, mas para aqueles que se permitem entrar em sua cadência, é uma experiência inesquecível.



Desempenho10
Gráficos10
Gameplay10
Trilha Sonora10

Positivo

-Direção de arte deslumbrante, inspirada em Moebius e quadrinhos europeus
-Trilha sonora de Austin Wintory eleva a experiência a outro nível
Jogabilidade fluida e inovadora com a espada-prancha

Contra

- Duração curta para quem espera um jogo mais longo

10
Nota

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