Hyrule Warriors: Age of Imprisonment Review


Hyrule Warriors: Age of Imprisonment chega ao Nintendo Switch 2 em um momento especial para a franquia The Legend of Zelda. Depois de duas aventuras gigantescas em mundo aberto e de spin offs muito bem recebidos, este novo musou coloca a princesa Zelda definitivamente no centro da guerra que moldou o passado remoto de Hyrule. Em vez de tentar ser um substituto para um Zelda tradicional, o jogo assume com orgulho sua identidade de ação em massa, abraça o legado de Breath of the Wild e Tears of the Kingdom e entrega uma experiência que parece ao mesmo tempo celebração, epílogo e carta de amor a esse ciclo da série.A trama se desenrola dez mil anos antes dos eventos de Tears of the Kingdom, justamente no período conhecido pelos fãs como as Guerras de Aprisionamento. Ao ser separada de Link, Zelda é arremessada para esse passado distante e se vê ao lado de figuras que até então existiam apenas nas memórias fragmentadas do cânone, como Rauru, Mineru e a enigmática Sonnia. Ganondorf não é apenas uma sombra distante, e sim uma ameaça viva, em construção, que vai ganhando peso a cada missão. Saber, de antemão, para onde o destino de Hyrule ruma não diminui o impacto dos eventos; na verdade, torna cada pequena vitória e cada sacrifício ainda mais melancólicos. A narrativa não possui o mesmo refinamento contemplativo das aventuras principais, mas dentro do formato musou ela impressiona. As cenas exploram com cuidado a relação entre Zelda e seus ancestrais, o peso da responsabilidade real e a ideia de que o heroísmo se repete em ciclos, mudando rostos, mas preservando valores. Algumas lideranças de raças novas não têm o mesmo carisma dos Campeões clássicos, o que pode afastar quem se apegou demais a Mipha, Urbosa e companhia, porém o roteiro compensa com momentos emotivos pontuais, ótimos diálogos e um cuidado evidente em respeitar e expandir o que já existia.




No campo da jogabilidade, Age of Imprisonment segue a fórmula básica dos Warriors. Campos de batalha extensos, centenas de inimigos na tela, bases que precisam ser capturadas, objetivos que surgem em sequência e comandantes que exigem mais atenção na hora do combate. O ritmo é intenso, quase nunca há momentos de respiro, e quem já está acostumado ao gênero cai em casa logo na primeira missão. Para quem vem apenas de Zelda, a sensação inicial é de caos absoluto, mas o jogo faz um bom trabalho em ensinar conceitos chave aos poucos, sem sobrecarregar logo de início.

O que realmente diferencia este título é o jeito como elementos de Tears of the Kingdom são incorporados ao sistema de combate. Os dispositivos Zonai, que no jogo anterior permitiam construções malucas, aqui viram ferramentas táticas poderosas. Cada herói possui ataques únicos, mas todos podem equipar e acionar dispositivos que soltam fogo, criam rajadas de vento, geram campos elétricos ou colocam bombas de tempo no cenário. Esses recursos podem entrar como ataques avulsos, como continuação de combos ou até como forma de estender sequências e criar correntes elementais devastadoras, o que traz uma profundidade improvável para um musou.

O elenco jogável é amplo e bem variado, com Zelda, Rauru, Mineru e outros nomes que os fãs vão reconhecer com um sorriso no rosto. Cada personagem tem ritmo, alcance e mecânicas próprias, o que incentiva o jogador a experimentar diferentes estilos. Um dos destaques é um misterioso Construct acompanhado de um Korok, que mistura golpes mecânicos pesados com truques espertos de suporte. Dominar cada lutador e descobrir quais combinações funcionam melhor nos Sync Strikes cria uma camada adicional de estratégia, dando vontade de repetir batalhas apenas para testar novas sinergias.




Os Sync Strikes, aliás, são uma das grandes estrelas do combate. Ao encher uma barra específica, o personagem pode iniciar um ataque combinado com um aliado que esteja nas proximidades, disparando sequências cinematográficas que limpam a tela e rendem um prazer imenso. Diferentes duplas geram animações e efeitos distintos, o que incentiva a manter o grupo próximo, ao contrário do comportamento padrão de espalhar aliados pelo mapa. O resultado é uma dinâmica interessante, em que você precisa escolher entre cobrir mais objetivos simultaneamente ou manter a equipe junta para garantir ataques sincronizados nos momentos mais perigosos.A progressão geral conversa muito bem com o universo Zelda. O mapa de Hyrule funciona como hub recheado de marcações, desafios opcionais, missões secundárias, melhorias de equipamento e pedidos de aldeões. Cozinhar retorna como uma mecânica simples e direta, usada antes das batalhas para garantir bônus temporários. Recursos coletados em combate servem para desbloquear novas habilidades, ampliar a vida dos heróis ou liberar melhorias para as tropas de apoio. Tudo isso se encaixa de maneira natural na fantasia de estar preparando um exército para uma guerra antiga que definirá o futuro. Em termos de dificuldade, Age of Imprisonment mostra maturidade. Existem três níveis distintos, todos disponíveis desde o começo, e nenhum conteúdo fica preso atrás de exigências de habilidade extrema. Jogadores que se interessam mais pela história conseguem ver tudo sem sofrimento, enquanto veteranos do gênero podem subir a barra e encontrar chefes que exigem esquivas precisas, leitura correta de telegrafias e uso inteligente de contragolpes. A possibilidade de ajustar a dificuldade entre as missões torna simples encontrar a zona de conforto de cada pessoa.




No Switch 2, o título brilha de forma impressionante. A taxa de sessenta quadros por segundo na campanha solo se mantém estável mesmo nas situações mais caóticas, com dezenas de inimigos grandes em tela, explosões elementais e Sync Strikes simultâneos. As texturas possuem definição muito superior ao que se via no Switch original, o nível de detalhe dos modelos e dos efeitos de iluminação aproxima a experiência visual de um Zelda principal recente, e a nitidez, tanto na TV quanto no modo portátil, deixa claros os ganhos de resolução que o novo hardware trouxe. As cenas não interativas são, talvez, o único ponto técnico que destoa do conjunto. Elas aparentam compressão mais agressiva do que o ideal, com perda de qualidade perceptível em alguns momentos de muita ação. Não chega a arruinar a experiência, já que o conteúdo das cenas é forte e bem dirigido, mas para olhos mais atentos a diferença entre a imagem cristalina da jogabilidade e o vídeo comprimido chama um pouco de atenção. Em compensação, os tempos de carregamento são incrivelmente rápidos, levando o jogador quase de imediato da seleção de missão ao campo de batalha. O modo cooperativo local, grande atração de muitos musou, retorna com competência. A taxa de quadros cai para trinta, como esperado, mas a fluidez continua muito satisfatória considerando o volume de elementos simultâneos na tela. Jogar lado a lado com outra pessoa transforma as batalhas em festas ainda mais caóticas, e a mecânica de Sync Strikes ganha um brilho especial, já que coordenar ataques com outra mente humana é ainda mais empolgante do que contar com a inteligência artificial dos aliados. Se há um ponto em que Age of Imprisonment poderia ter ousado mais, é no desenho dos mapas. Os cenários são lindos, fiéis ao imaginário de Hyrule em sua infância, com versões antigas de regiões amadas pelos fãs, além de áreas sombrias nas profundezas que remetem diretamente ao subsolo visto em Tears of the Kingdom. Ainda assim, a estrutura das fases segue um padrão bem conhecido, com corredores que ligam grandes arenas e rotas laterais pouco surpreendentes. Funciona, como sempre funcionou, mas falta um pouco da criatividade que a série principal costuma aplicar em seus mundos.




A variedade de objetivos também poderia dar um passo além em alguns capítulos da campanha. Existem boas missões que brincam com defesa de pontos específicos, escolta de personagens importantes, uso de dispositivos Zonai em quantidade absurda ou pilotagem de meios de transporte diferentes. No entanto, boa parte das batalhas ainda gira em torno de capturar postos e derrotar comandantes em sequência. Para quem ama o ciclo básico do gênero, isso não chega a ser um problema grave, mas jogadores que esperam reinvenções constantes talvez sintam certa repetição após muitas horas.Como produto dentro da cronologia de Zelda, Hyrule Warriors: Age of Imprisonment é um presente para fãs que gostam de esmiuçar linhas do tempo, pedaços de mural, falas enigmáticas de sábios ancestrais e qualquer migalha de informação sobre o passado de Hyrule. A forma como o jogo amarra eventos das memórias de Tears of the Kingdom, preenche lacunas e dá rostos, vozes e conflitos a figuras antes distantes é respeitosa e empolgante. Em diversos momentos, a sensação é de estar jogando um complemento oficial, indispensável para quem leva o lore a sério.Por outro lado, quem associa Zelda a exploração livre, quebra cabeças elaborados e sensação de descoberta constante precisa encarar Age of Imprisonment com as expectativas ajustadas. Este é um jogo de ação em massa, focado em batalhas gigantes que se repetem dentro de um padrão próprio. Não existe aquela liberdade completa de escalar qualquer montanha ou resolver templos na ordem que quiser. As qualidades aqui são outras, e quando vistas pelo ângulo correto, compõem uma experiência rica, generosa em conteúdo e surpreendentemente cuidadosa na forma como trata a franquia.




Ao final da campanha e de boa parte dos conteúdos extras, fica a sensação de que este título é uma espécie de grande despedida da era Breath of the Wild e Tears of the Kingdom. O combate refinado, o uso criativo de dispositivos Zonai, a atenção aos detalhes visuais, o elenco robusto e a história que expande e celebra esse ciclo tornam Age of Imprisonment o melhor musou já baseado em Zelda e um dos melhores trabalhos da Koei Tecmo com uma propriedade da Nintendo. É um jogo que sabe exatamente o que quer ser e entrega isso com confiança, estilo e um carinho visível em cada canto do mapa.

Para jogadores que adoram ação desenfreada, gostam de números enormes de inimigos caindo em combos brilhantes e ainda por cima são apaixonados pela mitologia de Hyrule, Hyrule Warriors: Age of Imprisonment é praticamente obrigatório. Ele não vai converter quem odeia o gênero e também não substitui um Zelda principal, mas cumpre com sobra o papel de spin off de luxo, com peso narrativo, valor de produção altíssimo e uma execução que aproveita de maneira exemplar o poder do Nintendo Switch 2. No balanço geral, é uma aventura histórica, tanto dentro quanto fora da linha do tempo da série. 

Desempenho8
Gráficos10
Gameplay10
Trilha Sonora7

Positivo

• Sistema de combate profundo, com uso criativo de dispositivos Zonai e Sync Strikes que dão variedade real às lutas
• Apresentação audiovisual digna de Zelda principal, com desempenho excelente no Nintendo Switch 2 e trilha sonora marcante
• Grande quantidade de conteúdo, com muitas missões extras, desafios e motivos para revisitar fases com outros personagens e dificuldades

Contra

- Cenas não interativas com compressão visível, destoando da qualidade gráfica durante a jogabilidade

9,5
Nota

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