Borderlands 4 Review


Poucas franquias conseguiram equilibrar insanidade e consistência como Borderlands. Após o sucesso explosivo do segundo jogo e a recepção morna de Borderlands 3, a Gearbox se viu diante de um dilema inevitável: reinventar a fórmula ou se apoiar na nostalgia. Borderlands 4, lançado para PC, Xbox Series e PlayStation 5, é a resposta definitiva. Um título que ousa modernizar seu DNA sem perder a essência que transformou a série em um ícone dos looter shooters. O resultado é um jogo monumental, denso e autoconfiante, capaz de unir o melhor do passado com a ousadia de um novo começo.

A história se passa seis anos após os eventos do terceiro jogo, transportando os Vault Hunters para o planeta Kairos  um mundo inédito, repleto de ecossistemas contrastantes, cidades vibrantes e desertos dominados por milícias. Sob o comando tirânico do enigmático Timekeeper, Kairos é um planeta mergulhado em controle mental e opressão tecnológica. O jogador assume o papel de um novo caçador de cofres encarregado de liderar uma revolução. A narrativa, mais contida e menos grandiosa que a do antecessor, acerta em cheio ao apostar em ritmo, clareza e desenvolvimento de personagens. Mesmo com arquétipos familiares, como o “forasteiro libertador”, a trama ganha vida graças ao humor ácido, às figuras excêntricas e ao carisma caótico que definem Borderlands.




Os Vault Hunters desta vez têm alma. Diferente dos capítulos anteriores, eles falam, reagem e opinam sobre os acontecimentos, tornando-se parte ativa da narrativa. Cada um dos quatro personagens jogáveis possui habilidades profundas e árvores de especialização que incentivam diferentes estilos de jogo. A personalização é uma das mais completas da série, permitindo ajustar aparência, comportamento e até respostas narrativas em certos momentos. Essa abordagem faz com que o jogador sinta que está moldando não apenas um personagem, mas uma identidade dentro do universo de Borderlands. O gameplay é o ponto alto da experiência. O tiroteio, já consagrado na franquia, atinge seu auge em Borderlands 4. A sensação de impacto é impecável, com armas que parecem únicas em peso, cadência e resposta. No PS5, o DualSense amplifica cada disparo: escopetas vibram com brutalidade, rifles de precisão tremem com precisão tátil e granadas explodem com uma força palpável. A introdução do gancho e do planador torna os combates mais verticais e estratégicos, transformando cada encontro em um espetáculo de caos coordenado. A inteligência artificial inimiga evoluiu consideravelmente, exigindo improviso e agilidade em cada confronto.

O planeta Kairos é o maior e mais ambicioso mapa da história da série. Diferente da fragmentação de Pandora, aqui tudo é interligado de maneira fluida, com três grandes regiões e dezenas de biomas. Cada local traz sua própria cultura, facção e narrativa. O jogador pode escolher a ordem das missões principais, o que aumenta a sensação de liberdade. Explorar Kairos é viciante há ruínas misteriosas, bases inimigas a conquistar e missões secundárias que superam campanhas inteiras de outros shooters. A Gearbox transformou a exploração em uma experiência recompensadora, viva e imprevisível. Visualmente, Borderlands 4 é um espetáculo. O icônico cel-shading foi refinado com linhas mais suaves, cores vibrantes e iluminação dinâmica que dão profundidade ao estilo cartunesco. No PS5, o modo performance mantém 60 quadros por segundo quase constantes, enquanto o modo qualidade entrega um visual cinematográfico com ray tracing, ainda que sacrificando fluidez. O contraste entre estética caricata e narrativa séria cria uma atmosfera única, capaz de prender o olhar a cada nova paisagem. Kairos é uma fusão entre o caos visual de Pandora e a elegância de mundos futuristas, resultando em um dos designs mais belos da geração. O sistema de loot, marca registrada da franquia, atinge seu ápice. São milhares de armas geradas proceduralmente, com variações que finalmente parecem significativas. Algumas possuem modos alternativos de disparo, outras mudam de elemento em tempo real. Tudo parece ter propósito e personalidade. Ainda assim, há pequenos deslizes: rifles de precisão continuam subaproveitados, e o excesso de armas de curto alcance pode tornar o combate um pouco redundante após longas sessões. Mesmo assim, o prazer de encontrar uma arma lendária continua sendo um dos momentos mais recompensadores da jogatina.



Nem tudo, porém, é perfeito. O sistema de menus e inventário, apesar do novo visual, é confuso e pouco responsivo. Filtros que se perdem, abas mal posicionadas e navegação truncada atrapalham o gerenciamento constante de equipamentos. O novo sistema de navegação também divide opiniões: ao remover o minimapa tradicional e substituí-lo por um radar temporário, a Gearbox tentou criar mais imersão, mas acabou tornando a exploração menos prática. São decisões que destoam da excelência geral do jogo e poderiam ser facilmente ajustadas em atualizações futuras. Nas missões secundárias, Borderlands 4 brilha com força total. Elas não servem apenas para ganho de experiência, mas também como pequenas histórias repletas de humor e crítica social. De sátiras políticas a dilemas morais absurdos, essas missões reforçam o DNA irreverente da série. O equilíbrio entre loucura e mensagem é raro em jogos do gênero, e aqui ele aparece com maestria. A Gearbox encontrou o tom certo: divertido, provocador e inteligente.




O modo cooperativo é puro caos compartilhado. Com crossplay total e servidores estáveis, o jogo permite sessões com até quatro jogadores sem queda de desempenho perceptível. A dificuldade se ajusta automaticamente conforme o número de participantes, e o sistema de loot individual elimina disputas por recompensas. Jogar com amigos é onde Borderlands 4 realmente se revela em todo seu potencial, entregando momentos de risadas, explosões e improvisos dignos de um bom filme de ação anárquico.O design de som é outro triunfo. Explosões soam intensas, vozes ecoam com naturalidade e o metal das balas parece vibrar no ar. As dublagens são excelentes, com entonações que finalmente humanizam os Vault Hunters. A trilha sonora combina ritmos eletrônicos e orquestrais, alternando entre batidas frenéticas e temas épicos. Jogar com fones de ouvido transforma a experiência, tornando cada batalha uma performance sonora envolvente.




Tecnicamente, Borderlands 4 é sólido. Nas dezenas de horas de campanha, os bugs são pontuais e os tempos de carregamento quase inexistem, graças ao SSD do PS5. As quedas de desempenho ocorrem apenas em batalhas massivas, sem afetar a diversão. Há relatos isolados de travamentos no cooperativo, mas nada que comprometa a experiência geral. É um jogo polido, estável e claramente otimizado para a nova geração. Em sua essência, Borderlands 4 é um recomeço. Um título que respeita o legado enquanto propõe uma nova direção para o futuro da franquia. Ele não busca apenas repetir fórmulas de sucesso, mas expandi-las, oferecendo mais profundidade, liberdade e identidade. É o equilíbrio perfeito entre caos e maturidade, entre o riso e a seriedade. Um lembrete de que a Gearbox ainda sabe criar mundos absurdos e fascinantes, cheios de energia, humor e personalidade.

No fim, Borderlands 4 é a revolução que os fãs esperavam há uma década. É o retorno triunfal de uma série que parecia ter perdido o rumo, agora mais forte e inspirada do que nunca. Com gráficos deslumbrantes, jogabilidade refinada e uma narrativa envolvente, o novo capítulo prova que o caos ainda pode ser arte. Para veteranos, é um reencontro nostálgico com tudo o que amam. Para novatos, é o ponto de partida ideal para mergulhar em um universo de loucura e liberdade sem limites.


CHAVE DO JOGO VERSÃO DO PS5 FORNECIDA GRATUITAMENTE PELA  2K

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